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quinta-feira, 16 de junho de 2011

eunuco




(dedico esse poema para meu amigo Wile Ortros)


cerzi a blusa com listras de sonhos perfeitos
bordando nelas o rouco de sua fala
depois do porre
e não me pergunte porque
mas acho que tons carmesins
não combinam com celeste

vejo agora o quanto se vestia mal
e como se jogou no asfalto
feito velhas virgens nada mudas
condenadas à uma sordidez desnuda
por serem tão beatas e não se permitirem doar

costurei o bolso de sua calça jeans
com o esgarço que trazia nos olhos
e arrematei com essa boca que muito dizia
que ria de tudo e calava para mim

enfim se vestiu em almas vazias
quase suas gêmeas
para estender para si a sua própria mão
e fez-se marionete de si para rir das desgraças
e ainda conseguiu escovar os dentes
se olhar no espelho sem chorar

fêmeas as palavras órfãs quebraram
e cobriram-me de riso, carne e vento
do poeta morto



(performance de Tatiana Videla)

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