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quinta-feira, 16 de junho de 2011

balada para um compositor desistente





não há canção que não saiba tocar
ou notas latentes que teus dedos
não alcancem e teus ouvidos
não distingam harmônicos

por um dia sonhou como Ícaro
fazer tuas asas de pesares, penas e cera
sobrevoar o mundo inteiro com a alma de pluma
e com teu violão de aço e madeira

hoje, corre sobre asfalto com tua moto velha
visitando os buracos que as chuvas abriram
e chora com elas em segredo para que não percebam
tudo o que te fere, te priva e te castra

tua dor teimosa vibra e ecoa pelos cantos surdos
junto com hálito que desperdiça nos acordes
que compõe para o esquecimento que invade
janelas e pupilas há muito dilatadas pela mentira


e agarrado à sua verdade pura e inocente, segue
isolado feito monstro amanhecido e exposto
procurando expiar-se em alamedas onde o amor esfria
e o prazer custa menos que o cansaço dos teus olhos

é muso de uma poeta que mal fala e esgueira-se
pelos campos da vergonha inócua por não
poder-te alcançar e muito menos diminuir a dor que sente
mas deflora o deserto do Planalto Central para ouvir-te

já não há espelhos em tua casa e o brilho das manhãs
não tocam mais teus prismas pernoitados, sem reflexo
a alma pesa mais que uma tonelada e quase nada sobrevive
à tua crença corrosiva que teima em manter-se etílica

Um comentário:

Andressa disse...

Magnifico! realmente amei esse blog e as fotos estão perfeitas. As poesias também. Parabéns!