Pesquisar este blog

terça-feira, 25 de outubro de 2011

o sonho de Lilith



veio pela fumaça cavalgando Cérbero
altiva e por hora a chamarei de Hécate
a guardiã escarlate das portas do inferno

há quem diga que tem asas
que seus cabelos longos
e vermelhos como fogo
trazem um aroma de inexplicável
de sémen e mirra

o desejo passivo nos olhos
travestia seu coração de pedra
afeita a tomar falos em contrações
que de tão violentas eram castrantes

quem há de se olhar refletido
nesse espelho de mil faces
sem que a deseje e se sinta impotente
enquanto o peito esmagado arfa
e o sorriso debochado estremece?



performance fotográfica de Constanza Ofelia Rodriguez

escarlate



enquanto todos os sonhos
se vão com o vento seco
e com as folhas avermelhadas
que parecem rir de bobagens
arrastadas junto com o pó

ela está ali convicta
imaginando que nada poderá
tirar a luxúria de seus olhos
que miram a vastidão horizontal
de um tempo tão ido, tão ido

pobre princesa rubra
assiste passiva sua imagem
espelhada em mil faces falsas
que gargalham entre si
e ela jura que é amor

queria voltar à inocência
que havia antes do vento
arrancar-me as folhas
antes das tempestades
levarem galhos e âmbar

rica princesa rubra
assiste passiva sua imagem
espelhada em mil faces de si
e gargalha entre imagens
e ela sabe que é amor.



performance fotográfica de Constanza Ofelia Rodriguez

verdades sitiadas




poderia contar de uma terra
devastada pelo medo e pela intolerância
das pedras que viram-se quietas por gerações
e que agora são arrastadas pela correnteza

isso não explicaria a violência da tempestade
da madrugada passada
e não resta nada além da prateleira
dos velhos retratos sobre a cômoda
e meus fantasmas a me observar

não devo enganar a mim mesma
dizendo que as portas tem trancas
e que a construção antiga
aguentará a ternura da solidão
e as orações em desapego

mas ainda olho os bibelôs
balançando suas cabeças
e os jingles de propaganda velha
onde o poeta pergunta incansável:
“o que faz você feliz?”

poderia romancear e responder reticente
que talvez o cantor da música que não fiz
ou que algum vagabundo que chamo pelo nome
me endurecem o pau que não tenho
ou um qualquer pudesse me fazer feliz

mas a lucidez torturadora me fez dispensar
meus filhos, meu nome e minha honra
e se nem minha casa me serve mais
o que há demais em confessar em silêncio
que não há felicidade aqui?

digam-me onde há glória





quero Glória, em pires
ou dentro de latinhas
de cerveja
para consumo imediato
ela me enlouquece
embriaga e engana
fode-me por ter
credibilidade

depois do Katrina
ou que nome tenha
o furacão-menina
seja na janela
ou na latrina
o cuspe, o vômito
e o gozo renovam-me

e se existe glória nesse mundo
quero-a assim, com nome de mulher
quero foder Glória!
e toda sua história
mentirosa e infame
com sotaque de redenção
e acompanhem-me os coros de
“Glória, glória, aleluia
glória, glória, aleluia!”

vingança


por que não matar a semente
antes que caminhe para que seja fruto?
que matem a semente, então!

e se devo dizer
direi algo acerca da certeza dos paradoxos
desabrigam e desobrigam-me de ser coerente
as quadradezas tendem a encolher as arestas
e se tornarem círculos, ciclos

e se não disser nada
sobre os silêncios onde o carbono habita
ou onde os radicais livres não deterioram
ainda tentarão fórmulas perfeitas onde nada envelhece
ou perde o sentido

hão de rezar e acreditar que está à mão
a virtude e a clemência
e enfrentar o que afirmo
como se a luta já não estivesse aí
bem antes de todos nós.

maus tratos


desbotam os homens
em falta de luz
e tanto sabão em pó

há fome e excesso de comida
há sede e excesso de água
e a resposta escassa no breu

estes panos alvejados
nos recalcam as vísceras
nos cobrem dos olhos alheios

e o que é bonito está
em papel de embrulho
nos fundos de uma gaveta esquecida

de um escritor que já morreu.




( Performance de Constanza Ofelia Rodriguez)

mortal




todos os meus poros agrupados
são gametas impunes
e assim como meu coração
habitam meus olhos

quisera que me tocasse a vulva
como me desfere seu olhar
muito mais que sua boca
mais profundo que seu falo
é o invisível imagético
que nos prende nesse laço

essa pele já não me protege
do externo e já não deseja
ser indivídua
quer ser alvejada, aferroada
rasgada e carcomida

para que me travestir pura
se a mulher ancestral berra
mesmo silenciosa e inculta
dá-me o que é de febre
encolha-me ao que há de profano

que ainda serei eu a chamá-lo de meu
mesmo que por poucas horas
pouco tempo, tempo algum
nem ao menos isso.




performance fotográfica de Constanza Ofelia Rodriguez

bilhete e rosa





por hora não me cabe a meiguice
que me querem
a letargia e a falta de latitude
me fazem ser a barata dos sonhos
de Kafka
ou o retalho do falso santo sudário

avia-te que o sol não é esse
nem é essa via que te escapa
digo isso olhando nos meus olhos
e não acredito
não tenho moral para falar comigo

é certo que o umbigo é torto
e há uma calosidade pulando
para fora dele e poderia afirmar
que só aquele calo sou eu
sim, uma carninha de buraco
que procriou e deu nisso

mas enfim, quando for meiga
e suprir todas as necessidades alheias
espero que escolham bem as rosas
e o meu caixão.

musa morta



ele finge para não delatar-se
e sob a musa seminua
o carrasco impera
como quem sente mais
que deveras sente
sustenta o soluço
quase não




performance fotográfica de Constanza Ofelia Rodriguez

do que me pede



nada tenho que posso de bom grado ofertar-te
te cortas saber que nada tenho além
das lágrimas nos olhos e as mãos alheias
que me afagam dia e noite sem cessar
e que há prazer, é pena dizer-te, que há prazer
nas mãos cálidas e ingênuas que me tocam nuas
de sentido e fartas de sentimentos reais?

fardo é esse amor longínquo que mal me acolhe
que seca aos prantos e faz sangrar afoito
quem és tu, anjo da noite que vibra em meus ais
que te entrega soturno e vadio
notívago, quase sereno e cortante
como as velhas putas do cais?

não sou nada além dos templos que proclamais
infame, infame, infame, mil vezes infame
esse querer que me corrói por dentro 
e rasga minha carne com a mordida de outrem
que me dês tudo que te convéns
mas não barganhes a honra que já não tenho
quem és tu cavaleiro andarilho
coberto com armas que desconheço
que tens minha alma itinerante 

nessa noite que mal contemplo?

elegia ao medo


o repuxo é pior que a dor
o receio castra
e protege quem não pode tentar
quem me dera ser um covarde os sacos plásticos estão cheios
de atos heróicos baratos e descartáveis
refugo doutros dias de glória
ressonâncias de hipocrisias

audácia é o recolher do couro
antes do golpe, antes do corte
antes da ferida
diria que dobraram a coragem

quem dera ser mais um covarde
desses que se entrega
mal sabendo o que é luta
quem dera desistir da vergonha.

abandono



me perdi em sonhos e livros bons
o silêncio pueril nunca foi tão poderoso
as palavras escritas furavam como faca afiada
e os olhos cansados e vencidos dessitiam
por momentos breves

as guerras perdidas não explodiam mais
as batalhas vãs não incomodavam
o intermitente soar da fúria não exigia
o limbo entre o feio e belo era dividido
por minhas ventas abertas

todos me deixaram só
por conveniência, inexistia
por insistência, resistia

a plenos pulmões



(para Maiakovski)

entre os livros da prateleira
encontrei meu passado
e consagrações para o além
descobri-me uma tagarela

recordei das falas repressoras de minha mãe
e das palavras de incentivo de meu pai
mal sei dizer se algum estava certo
mas sei dizer das lixeiras

como elas nasci com uma queda
um leve pendor para a sarjeta
becos escuros e fétidos
meias furadas e para a decadência

lembro-me ainda das cuecas samba-canção
penduradas no varal de minha avó
e do primeiro sexo anal
sem sabão

e nem me olhe com essa cara de repressão
gosto de agredir olhos
já que os ouvidos são acostumados
com palavras de baixo calão

e tenha certeza que o jornal é pior
bem pior que minhas palavrinhas imundas
putas e infiéis são rasgadas de orelha a orelha
todos os dias, mas parece que não são humanas

ninguém se importa com os cães sarnentos
ou com as goteiras do domo central
quem há de olhar a propriedade alheia
e se agarrar à ordenha de gravatas?

pintem os cabelos e os olhos de preto
pois os vestidos são frágeis e podem puir
amarrem os tornozelos para que os escravos
permaneçam à vista e cativos

é preciso calar o jovem que se rebela
vejam quão fundo é sua crença
saibam quão lúcida sua vidraça
se nada der certo cortem sua goela

não peço que bajulem os críticos
ou que cortem suas unhas antes
da ceia de Natal
mas peço que calem sua boca

e iremos felizes suportar o luto
do escritor vagabundo que ousou
e vistam-no de branco para ressaltar
o que não foi dito

ontem fui até o velho casarão
o mesmo onde passei minha infância
e nada lá era como antes
nada lá era mais meu.

escarlata






mientras todos los sueños
se van con el viento
y con las hojas rojizas
que parecen reír de tonterías
arrastradas con el polvo

ella está allí convicta
imaginando que nada podrá
quitar la lujuria de sus ojos
que miran la amplitud horizontal
de un tiempo tan ido, tan ido

pobre princesa rubra
contempla estática su imagen
espejada en mil rostros falsos
que carcajean entre sí
y ella jura que es amor

quería volver a la inocencia
que había antes del viento
arrancarme las hojas
antes de las tempestades
llevaren gajos y ámbar

rica princesa rubra
contempla estática su imagen
espejada en mil rostros de sí
y carcajea entre imágenes
y ella sabe que es amor.


(tradução de Carlos Cruz)

estirpe




pede os calos do mundo
como se soubesse suportar
mas mal entende a realidade

roga os vazios mundanos
como se ainda existissem lutas
que não causassem danos

sabe bem de sua origem
mas não lhe cobrem os panos
mostra-se nua feito as putas

não há como julgar uma rainha
essa que se cobre de enganos
só há o que dizer do belo

daquela que nos enfeitiça
sobram as lágrimas
de quem viu e não pôde tocar

sabe bem de sua semente
musa rubra de felicidade
pouca e pernoitada

vê que não lhe pedem nada
além do suplício de ser
a vertente intocada.


performance fotográfica de Constanza Ofelia Rodriguez

o amor



arrancou-me os olhos
os bicos dos seios
a vontade de sorrir
esfarrapou meus sonhos
tornou-me velha
e adoeceu-me devagar

arrancou-me a luta
os ovários
a vontade de seguir
esquartejou as cebolas
alguns tomates e o manjericão
e envenenou o jantar

serviu-me absinto
com um torrão de açúcar
e me puxou pra dançar
com uma faca para degola

assim o amor me fez ver o mundo
sem ter fichas pro futuro
sem almejar o mundo dos homens
sem alcançar minhas pernas

mostrou-me certas possibilidades
a terceira janela
no vigésimo andar
no trigésimo capítulo

estampou minha história quase feliz
num idioma desconhecido
naquele jornal de ontem
que embrulha o peixe, hoje.

desface



há aqui o que luta contra si
desvelado, apartado, revolto
ri abastado
como se pudesse deixar de lado
aquele que é aqui

ah, pobre amorfo ser
que destrói o que é
renega o que foi

ah, rico amorfo ser
que não credita a si
dotes que não tem

olhe de perto e verá faces
muitas delas
e nenhuma o é

não se engane
pele e riso
não o são.

anacrônica


infiel sob o olhar alheio 
não se justifica
em tempo diferente ama
reivindica
porque a crítica
se eres capaz do mesmo?

enverga


a farda pesa
o ombro já não quer mais
estica a espinha 
e ereta observa o mundo

mais uma vez não quebraram
mais uma vez, resiliente
dobrou-se à cavalgadura
agora ereta observa
mais uma vez o mundo

a sombra


alguma coisa me persegue

roubando o melhor de mim

cobrindo minhas pegadas

sussurrando o fracasso

e o desgosto já esperados

ri e zomba como se para sempre

me segue feito passado a assoviar

quem há de acreditar num imbecil

quem há de acreditar em um bêbado

que se entrega a qualquer derrota?

olho para trás e ela ali

é a única que não desiste

vê todos os meus passos

sem se comover

não me deixa dormir

diz que sou um hipócrita

mais um infeliz sem saída

um maldito mentiroso

que por vezes se precipita

e já não quero continuar isso

já não quero nem recomeçar

não peço nem que

acredite que não sou louco

a figura está a me assombrar

na boca da noite, antes do porvir

a dobra do origami



vi então suas asas
nascendo sobre seus braços
tomando suas mãos
enquanto outras criaturas
de papel voavam

esses seres alados se reuniam
sobre seus glúteos
sobre sua vulva
erguiam-se em dobras

enfim eram saias que ocultavam
um corpo marcado
um coração desfeito
dois pés dilacerados

a musa rubra descansa
sobre os mesmos olhos
que passivamente fere
e cega

não entende os males
que prolifera e paira
quase meiga e só
sobre a terra devastada.


performance fotográfica de Constanza Ofelia Rodriguez

teu nome


o amor da entrega pura
se estraga com o tempo
se esvai pelos ralos
pelas frestas das portas
nas ranhuras das paredes gastas

o amor de pulso inocente
se perverte em sexo mundano
se esgarça nas saias das amantes
se desfia pelas meias finas
nas mentiras mal contadas

e assim, a confiança no outro
e em si se vão com o vento
da primavera
que não espera
não espera

teu nome estará guardado
e o repetirei mil vezes, meu amado
foi o único que não me teve
e que amei mais que todos
teu nome nunca será o meu.


(poema para Marco Fernando)

mea culpa


voei, como fariam os pássaros tristes
profanei as palavras sussurradas, e gritei
aos quatro ventos que eu estava ali
me perdi de mim

ave revolta em credos
de asas quebradas
e peito dilacerado
mea culpa

blasfemei o que mais desejei
incauto e desnudo
fui pego pela fragilidade
e devorado pelo inimigo, em mim

vitae


quão profunda pode ser uma dor
à revelia sinto espasmos
antes mesmo do golpe
antes mesmo da palavra dita

quem és tu maldita infame
que me fere e me lambe
como se fosse do meu desejo
quem és tu besta-fera?

toma-me os olhos e a boca
invade sem pudor as entranhas
e ainda se alimenta de mim
como se tua fosse

quão inócuo pode ser teu toque
que me espezinha com um olhar
não sou tua, não sou
sou a soma de meus medos

fino bordado


a trama complicada dos versos costurados em vão
cada pintura torpe pendurada na parede é um calo
e todas as frestas são lascivas até que provemos o contrário

a agulha atravessa o tecido sem rasgá-lo e ri
porque deixou sua linha como marca de que ali esteve
e não mais voltará

é estampa do tempo em pontos apertados em nós
finamente bordados e não por menos e não por mais
na medida exata dos silêncios afogados

a onda infinita da mão que borda e reborda
a ínfima textura do tempo que se desdobra
e ri do transitório, para não rir de nós


o dono da noite


a bela fragilidade se instala
sob nuvens do céu da sua boca
é como adorar o fluxo singelo
dessa solidão indiferente e náufraga
que habita a primeira manhã sem sol

o silêncio é seu apelido viaja solto
entre vozes alheias
e pedidos de socorro
como pode visualizar fatalidades
sem se comover?

seu trono está no horizonte
e o porvir é tão encarniço e injusto
cobra altos preços pela profundidade delicadezas
escorrem a céu aberto
entre a crueldade dos tempos.

escolhas




vejo agora o quanto somos fúteis
e como nos jogamos do sétimo andar
todos os dias que condenamos verdades
e permitimos o império da superficialidade
condenados à uma sordidez desnuda

remendei a meia fina que me rasgou
na noite passada e na agulha
coloquei todo o esgarço de meu peito
pelos sorrisos falsos que cedi
e pela ânsia mal fadada que tenho
enfim, ela não me servirá mais

estou duzentos dias mais pesada
trezentas horas mais recalcada
e trinta e sete tijolos mais protegida
as anáguas não me ferem mais
nem tão pouco essa imagem de marionete
que pinto no espelho antes de sair de casa
e já não tenho mais mãos
se não essas que só servem
para me salvar de mim mesma

quantos vestidos de sonhos perfeitos
bordados à mão
para serem usados em noites de porre
talvez me pergunte porque
tantas saias e sapatos
se acabaremos nus e bêbados
no tapete da sala
ou no banheiro de alguma festa

a folha


vê como é livre a folha
que vai e vem
sem se prender
sem temer a voar
é a música do perder
e vai e desaparece
rodopia e reaparece
como uma contradança
entra em parafuso
e some e se vê

sabe bem dos sussurros
que o ar dá ao lhe levar
e a tola roda, roda
olhe a folha cansada
que se entrega a sorrir
sem se preocupar
com o que é

oh, pobre folha
que se atreve a voar
com a força do vento
e se contamina
com essa onda quente do vento
e está tão entregue
que já nem é

passado



os pés corriam para encontrar um templo prometido
onde as estradas eram amarelas como ouro
onde sonhar era possível e a magia era presente
mas o pôr do sol veio e a noite foi fria

ao amanhecer o orvalho nas plantas
e os pingos prateados desfigurados pela aurora
prometiam melhores ares e enganavam mais uma vez
sem que meus sentidos pudessem entender

o percurso foi longo e árduo
embora as pedras rissem e desdenhassem
do sofrimento e feridas de meus pés
e sempre pensei em parar de tentar

perdi meu tempo num monte estranho
onde ninguém se olhava nos olhos
onde as juras eram falsas e o amor também
aí estavam terras que não eram minhas

terça-feira, 18 de outubro de 2011





reclame




ainda olho pelas janelas
observando a vastidão da gleba
enquanto dedilho o velho jingle
os reclames só me lembram
de minha infelicidade

a propaganda da margarina
mostra uma família sorridente
a da cerveja só expõe
belas mulheres semi-nuas
e só me estimulam a ser
o alcoólatra que sempre fui

não devo me enganar mais
deixando minhas esperanças
em trancas de portas e janelas
ou nos cadeados do portão
prefiro afogar-me em bebida

a mesa está posta e vazia
desisti até de meus filhos
ou eles me deixaram
tanto faz

isso não diminui o pavor
da madrugada passada
a solidão da hora da tempestade
e os relâmpagos iluminavam
os velhos retratos sobre a cômoda
e meus fantasmas me olharam de perto

a lucidez torturadora só me fez
entender que nada me serve mais
que exijo demais das pessoas
tenho medo e sou intolerante

ontem rios transbordaram
e moveram as pedras velhas
e arrancaram tudo do lugar
até os visgos de minhas crenças.