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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

HAR1 (agá, a, erre, um)



não entendo desse idioma estranho
colorido em ACGT
que se enroscam em tramas
nada além de vazios

não sou feito de dramas
nem de meus pés tortos
ou desse andar esquisito
nem mesmo desse sorriso
de boca de trapo

sou o colar que recebi
finamente costurado
em partículas miúdas
e meu começo e meu fim
estão tecidos nele

horas inteiras




o movimento dos ponteiros de segundos
perduram entre os sorrisos falsos
sobre o piano calado
todos datam a eternidade

quem dera a velocidade dos carros
desse o compasso do tempo
preso nas celas por cordas
de minha goela seca

não há amor na revolução
há apenas retratos mudos
desbotados pela distância
e por lembranças deturpadas

quem dera essas balas do tambor
de meu revolver fossem palavras
e estourassem o vazio do tic-tac
que trago em minha cabeça

a menina que semeava papoulas



suas mãos passeavam dentro do saco de papel
cheio de sementes negras que mais pareciam
bolinhas miúdas ou pequenos ovos de inseto
e elas esvaiam-se entre os dedos feito tempo

jogava ao solo aqueles pontinhos pretos
como se fossem pontos finais
esperando milhões e milhões
de minúsculos recomeços

e sob visões de pupilas dilatadas
aquela criatura caminhava em campo aberto
o vento arrastava suas saias e ela se divertia
como uma besta fera sorria estridente

seus pés avermelhados pela terra
afundavam no morno que o sol deixava
e a vida dentro da própria vida era surreal
as sementes eram bombas sobre o chão arado

as mãos devotadas ao prazer despretensioso
do toque daquelas minúsculas cápsulas
refaziam incessantes os movimentos
de captura e liberdade suprema

mal sabiam da colheita.

Medusa


as pétalas de seus olhos desceram
por minha rubra face
instalaram-se entre minhas clavículas
como aperto de polegares em asfixia

ver o que vi em todas as outras
e não supor que era assim tão óbvia
só nos ferem os que amamos
mea culpa, não tomei nenhuma precaução

quebro uma promessa que fiz e peço
que me deixe agora
que não congele minhas resistências
nem estilhace o que restou

um espinho ainda está na garganta
não me olhe mais, nunca mais
quero permanecer pedra
por saber que mal maior é a esperança