
arrancou-me os olhos
os bicos dos seios
a vontade de sorrir
esfarrapou meus sonhos
tornou-me velha
e adoeceu-me devagar
arrancou-me a luta
os ovários
a vontade de seguir
esquartejou as cebolas
alguns tomates e o manjericão
e envenenou o jantar
serviu-me absinto
com um torrão de açúcar
e me puxou pra dançar
com uma faca para degola
assim o amor me fez ver o mundo
sem ter fichas pro futuro
sem almejar o mundo dos homens
sem alcançar minhas pernas
mostrou-me certas possibilidades
a terceira janela
no vigésimo andar
no trigésimo capítulo
estampou minha história quase feliz
num idioma desconhecido
naquele jornal de ontem
que embrulha o peixe, hoje.
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