Esse é o resultado do trabalho de dois artistas livres! Sindri Mendes traz o olhar intenso e explosivo enquanto Larissa Marques imprime palavras ácidas. Confira o resultado!
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010
olhos evasivos dissimulam
talvez uma loucura velada
talvez a profundidade do fosso
jogam-se no vazio inerte
como se dependessem do negro
que se deposita no fundo
mergulham em si
lentos e famintos
tocam as indagações insanas
sem compromisso
com respostas imediatas
visão e verdade
querem-se absolutos
mas só se possuem abstratos
descobrem-se relativos
submersos na subjetividade.
das esperas
rogo para que essa
vontade apazigúe
feito verão caído
num quase outono
a boca dela foi demais
para mim
uma agiota de extremos
nessa cama de hotel
mas tudo serena
quarto vazio
noites de teima
dias desastrosos
sorrindo ela mastigou
qualquer orgulho meu
calou em chuvas de prata
e deixou-me o cheiro de urina
e ainda sinto
o gosto dela
o ocre do sexo
em notas de absinto.
o rei de olhos vesgos
como pôde meu rei
ir sem dizer adeus
foi cedo
mais cedo que todos
sem sussurro
sem chorar
deixou-m um filho
bastardo filho
só príncipes morrem assim
e só era rei aqui
temi pelo dia que
choraria nosso fruto
e chorei
vi os olhos cinzentos
e me perguntava o motivo
não sabia que era morto também
inconsolável dor
ontem nasceu
morreu-me feto
o filho do rei de olhos vesgos
hoje tenho-os tortos
um que me olha o chão
outro que me escuta o umbigo.
florada dos ipês
desejo habitar seus olhos
quando for dormir
tenha-me em sua retina
independente de quem acalentar
e seja inteiro, pulsante
sei que nem cabe em mim
tanto querer, mas possua
quem amar e proteger
para que o calor de seu corpo
não se disperse em vão
que o nosso tempo
seja para você o bastante
e no fim ainda queira
com os seus compartilhar
não sei se espero muito
nem se anseio pouco
mal posso expressar
aviso que tenho sua figura
em meus olhos ao me deitar.
antônimo de mim
antônimo de mim
já me nauseia a fala
das vilanias desisti
estou derrotada em ais
das sertanias invadidas
dos amores saqueados
das cavalhadas sem pouso
restou-me a solidão
cuspo e escarro
essa verve mascada
e me possuirá oca
não quero me apegar
se acreditasse em algo
o vislumbraria agora
pois me arrependo
de meus pecados
peço que venha sem orações
que é a hora da morte e
"que seja feita a vossa vontade”
livre-me desse ego de papel!
afogado
sutura
Criação
Caminhei alguns minutos com minha avó, num certo momento ela me perguntou se eu sabia onde meu umbigo fora jogado e não me dei conta do que falava, achando absurdo o que dizia. Ele estava no centro de minha barriga, é claro!
Apontando o rio ela disse:
─ Quando morremos nossa alma volta para onde o umbigo foi jogado. Onde quer que morra, sendo rico ou pobre, jovem ou velho, seu espírito voltará ao Rio Paranaíba para descansar!
always on my mind
cruzei o portão
milhares de vezes
em pensamento
antes de fazê-lo
antes do seu braço
me resgatar dali
me tocou incontáveis
horas, dias e meses
sem que eu soubesse
e hoje não consegui dormir
nunca deveria ter ido
me salvar não é uma boa
estou perdida faz tempo
e levarei alguém comigo
agi errado
deveria ter dito
mas eram olhos demais
palavras demais
o medo me coagiu.
antes que digam-me
apartheid
ele seguirá meus passos
nessas ruínas sitiadas
onde quer que eu vá
nessa cidade de pedras
vazio e esgotado
nesse tempo lento
de um abraço ausente
suportará a desordem
sem sucumbir ao caos
as ideias sempre vêm
tarde demais
meu anjo espreita
sua imagem acalenta-me
sua voz me acalma
e seguirei meus sentidos
sem sentir meu coração.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
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