Esse é o resultado do trabalho de dois artistas livres! Sindri Mendes traz o olhar intenso e explosivo enquanto Larissa Marques imprime palavras ácidas. Confira o resultado!
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sexta-feira, 18 de novembro de 2011
HAR1 (agá, a, erre, um)
não entendo desse idioma estranho
colorido em ACGT
que se enroscam em tramas
nada além de vazios
não sou feito de dramas
nem de meus pés tortos
ou desse andar esquisito
nem mesmo desse sorriso
de boca de trapo
sou o colar que recebi
finamente costurado
em partículas miúdas
e meu começo e meu fim
estão tecidos nele
horas inteiras
o movimento dos ponteiros de segundos
perduram entre os sorrisos falsos
sobre o piano calado
todos datam a eternidade
quem dera a velocidade dos carros
desse o compasso do tempo
preso nas celas por cordas
de minha goela seca
não há amor na revolução
há apenas retratos mudos
desbotados pela distância
e por lembranças deturpadas
quem dera essas balas do tambor
de meu revolver fossem palavras
e estourassem o vazio do tic-tac
que trago em minha cabeça
a menina que semeava papoulas
suas mãos passeavam dentro do saco de papel
cheio de sementes negras que mais pareciam
bolinhas miúdas ou pequenos ovos de inseto
e elas esvaiam-se entre os dedos feito tempo
jogava ao solo aqueles pontinhos pretos
como se fossem pontos finais
esperando milhões e milhões
de minúsculos recomeços
e sob visões de pupilas dilatadas
aquela criatura caminhava em campo aberto
o vento arrastava suas saias e ela se divertia
como uma besta fera sorria estridente
seus pés avermelhados pela terra
afundavam no morno que o sol deixava
e a vida dentro da própria vida era surreal
as sementes eram bombas sobre o chão arado
as mãos devotadas ao prazer despretensioso
do toque daquelas minúsculas cápsulas
refaziam incessantes os movimentos
de captura e liberdade suprema
mal sabiam da colheita.
Medusa
as pétalas de seus olhos desceram
por minha rubra face
instalaram-se entre minhas clavículas
como aperto de polegares em asfixia
ver o que vi em todas as outras
e não supor que era assim tão óbvia
só nos ferem os que amamos
mea culpa, não tomei nenhuma precaução
quebro uma promessa que fiz e peço
que me deixe agora
que não congele minhas resistências
nem estilhace o que restou
um espinho ainda está na garganta
não me olhe mais, nunca mais
quero permanecer pedra
por saber que mal maior é a esperança
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