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terça-feira, 25 de outubro de 2011

verdades sitiadas




poderia contar de uma terra
devastada pelo medo e pela intolerância
das pedras que viram-se quietas por gerações
e que agora são arrastadas pela correnteza

isso não explicaria a violência da tempestade
da madrugada passada
e não resta nada além da prateleira
dos velhos retratos sobre a cômoda
e meus fantasmas a me observar

não devo enganar a mim mesma
dizendo que as portas tem trancas
e que a construção antiga
aguentará a ternura da solidão
e as orações em desapego

mas ainda olho os bibelôs
balançando suas cabeças
e os jingles de propaganda velha
onde o poeta pergunta incansável:
“o que faz você feliz?”

poderia romancear e responder reticente
que talvez o cantor da música que não fiz
ou que algum vagabundo que chamo pelo nome
me endurecem o pau que não tenho
ou um qualquer pudesse me fazer feliz

mas a lucidez torturadora me fez dispensar
meus filhos, meu nome e minha honra
e se nem minha casa me serve mais
o que há demais em confessar em silêncio
que não há felicidade aqui?

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