Pesquisar este blog

terça-feira, 18 de outubro de 2011

reclame




ainda olho pelas janelas
observando a vastidão da gleba
enquanto dedilho o velho jingle
os reclames só me lembram
de minha infelicidade

a propaganda da margarina
mostra uma família sorridente
a da cerveja só expõe
belas mulheres semi-nuas
e só me estimulam a ser
o alcoólatra que sempre fui

não devo me enganar mais
deixando minhas esperanças
em trancas de portas e janelas
ou nos cadeados do portão
prefiro afogar-me em bebida

a mesa está posta e vazia
desisti até de meus filhos
ou eles me deixaram
tanto faz

isso não diminui o pavor
da madrugada passada
a solidão da hora da tempestade
e os relâmpagos iluminavam
os velhos retratos sobre a cômoda
e meus fantasmas me olharam de perto

a lucidez torturadora só me fez
entender que nada me serve mais
que exijo demais das pessoas
tenho medo e sou intolerante

ontem rios transbordaram
e moveram as pedras velhas
e arrancaram tudo do lugar
até os visgos de minhas crenças.

Nenhum comentário: